Depois do TD de Londres e do TD de Istambul do Confrade Radar, pensei que poderíamos ir para um destino bem mais perto, mas talvez desconhecido da maior parte dos portugueses, mesmo daqueles que vivem no norte do País.
Resolvi escrever acerca de Santiago de Compostela, uma das pequenas cidades mágicas da Europa. Mas como a viagem a esta cidade é curta vou relatar-vos sumariamente como a tornei numa viagem longa onde aproveitei para revisitar sítios de Portugal e conhecer outros e tentar conhecer a Galiza com alguma profundidade. Um roteiro tão bom e tão imperfeito como outro qualquer…
UM MOIRO PELOS CAMINHOS DE SANTIAGO
Ficha técnica:País: Espanha
Cidade: Santiago de Compostela
Hora: uma hora a mais que em Portugal
Língua: castelhano e galego, sendo que este último é muito mais parecido com o português
Moeda: Euro
Meio de transporte: automóvel (embora se possa ir de comboio e de avião)
Aeroporto: Aeroporto de Santiago de Compostela (nunca utilizei)
Visto: não é preciso
Local de estadia: AC Palacio del Carmen
Preços por noite: c. de 110€ por noite com pequeno-almoço
Meio de transporte na cidade: sempre a pé
Refeições: no magnífico restaurante do Palacio del Carmen, no Parador dos Reis Católicos e noutros restaurantes da cidade
UM MOIRO PELOS CAMINHOS DE SANTIAGO
Dicas de viajante:Era um sonho que tinha há anos… viajar calmamente até Santiago de Compostela. Poder absorver aquele ambiente medieval e imaginar in loco o que seria a chegada de milhares e milhares de peregrinos vindos de todo o mundo católico, enfrentando os perigos de uma viagem que há mil anos era um verdadeiro perigo. Por alguma razão, grandes grupos eram escoltados por cruzados.
O objectivo deste pequeno relato é mesmo a cidade de Santiago de Compostela e alguns dos sítios que visitei na Galiza. Mencionarei, apenas de passagem, locais igualmente bonitos e importantes em terras de Portugal (estas ficarão, eventualmente, para outra altura).
No caminho de Santiago que este moiro escolheu, a primeira etapa foi Guimarães, o berço da nacionalidade. Fiquei hospedado na Pousada de Santa Marinha, com uma vista magnífica sobre a cidade e um claustro transformado em bar e com música ambiente a condizer. Visitei o Paço dos Duques de Bragança, subi no teleférico da Penha (outra vista magnífica), refastelei-me numa esplanada do centro histórico…
A segunda etapa no caminho de Santiago foi Valença do Minho. Fiquei na Pousada de São Teotónio, dentro das muralhas. E nelas me confinei, excepto para fazer razias a algumas terras. Aliás, entre Guimarães e Valença, tive o privilégio de visitar (sem qualquer ordem) Braga (e o Santuário do Bom Jesus), a Citânia de Briteiros, a Cascata do Arado, perder-me no Gerês e almoçar na Pousada (com mais uma vista magnífica), passar pela Barragem da Caniçada, visitar Monção, Caminha, Vila Praia de Âncora, Viana do Castelo, Ponte de Lima, Arcos de Valdevez, Paredes de Coura e Melgaço. Tive a sorte de sermos acompanhados neste percurso pelo Norte do País por um amigo que o conhece bem e que nos levou também aos melhores restaurantes da região. Todos eles tão bons que estou a ficar cheio de fome: Bom Jesus (Valença); A Carvalheira (Ponte de Lima); Panorama (Melgaço) e o Camelo (Portuzêlo). Espero, sinceramente, que se mantenham todos abertos.
A terceira etapa no caminho de Santiago foi mesmo Santiago de Compostela, mas não sem tentar conhecer um pouco melhor a costa. Directos para Pontevedra (viu-se a Basílica de Santa Maria e bebeu-se um café) e depois direcção La Toja, ilha paradisíaca, famosa pelas suas termas e toda ela explorada por uma unidade hoteleira. Duas curiosidades: a pequena igreja de paredes cobertas de vieiras e o campo de golfe de 9 buracos (esta é uma para o Confrade Prov1). Acabei por almoçar calmamente numa esplanada a contemplar o mar.
La Toja
Depois segui-se para Cambados e Vila Garcia de Arousa (onde a 16 de Agosto se comemora a festa de San Roque com uma batalha naval, fogos de artifício e romaria).
E chegamos a Santiago de Compostela. Embora o hotel esteja bem embrenhado no centro, a sinalética é exemplar. O Hotel (AC Palacio del Carmen) é um 5 estrelas com preços de um Ibizx2. Antigo Convento de Las Oblatas, foi restaurado há muito pouco tempo, mantendo o estilo original. Foi-lhe acrescentado uma ala mais moderna perfeitamente enquadrada no estilo arquitectónico. O restaurante é panorâmico para os jardins românticos e é excelente com serviço eficiente e uma simpatia a toda a prova. Tem todos os serviços modernos e até babysitting. Embora recatado, sobretudo devido ao seu enquadramento na cidade, está a dois ou três minutos a pé da Plaza del Obradoiro (praça principal de Santiago onde fica a Catedral). Tinha tentado ficar no Parador dos Reis Católicos, em plena praça, mas vi à posteriori que fiquei melhor no Palacio Del Carmen.
AC Palacio Del Carmen
Do Hotel vai-se sempre a direito pela Rua das Hortas e chega-se à Plaza del Obradoiro para se ser esmagado pelo peso da História. Santiago é um pouco como Salamanca, com o seu cosmopolitanismo (eu sou daqueles que gosta de ver japoneses nos mais recônditos cantinhos do mundo, a darem importância à História dos outros como se fosse a História deles. Perdoem-me os parvos… mas só os parvos não dão importância nem aprendem nada com a História!), com o seu quinhão de estudantes e tem a mais os milhares e milhares de peregrinos que completam o ambiente medieval, apesar do anacronismo das vestes.
Quando apanho uma praça destas, a primeira coisa que faço é procurar uma esplanada, pedir qualquer coisa e ficar numa espécie de contemplação das almas, a medir o pulso à coisa. E foi o que fiz. Entrando pelo lado esquerdo da praça, temos à nossa frente a imponente fachada da Catedral (barroca com importantes elementos românicos) e à nossa esquerda o Parador dos Reis Católicos (antigo hospital para os peregrinos), com uma esplanada logo a pedi-las… O Códice Calixtino diz a determinado passo "Ao que contempla esta cidade o seu coração se enche de alegria e de gozo maravilhado pela sua variedade e grandeza". E foi isso que senti naquela esplanada… a reverência misturada com o sentido de maravilha das gentes.
Para completar o conjunto, temos do nosso lado direito o Paço de Raxoi (partilhado pela Presidência da Xunta da Galicia e pela Câmara Municipal), de estilo neoclássico e oposto ao Parador o Palácio de São Xerome (hoje o edifício da reitoria da Universidade).
A partir desta praça central irradiam ruas e ruelas que vão dar a outras praças, todas elas com o seu charme e com a sua história.
E voltemos à Catedral. A melhor entrada é pela escadaria da Plaza del Obradoiro com o seu Pórtico da Glória (do tempo de D. Afonso Henriques). Logo aqui impressiona a fila que se forma para que quem entra possa colocar a sua mão no mesmo sítio onde milhões de peregrinos já colocaram a sua ao longo de quase 1000 anos de História. E lá está… a mão marcada na pedra.
Toda a Catedral merece uma visita atenta, com o seu traçado românico, o sepulcro do Apóstolo Tiago, Maior, o gigantesco botafumeiro, a cripta do tesouro e a acabar na lojinha da Catedral (com algumas coisas bem interessantes) e no Museu.
E se tiverem a sorte de estarem em Santiago de Compostela na noite de 24 para 25 de Julho (como eu tive), marquem mesa no Comedor Real, no Parador dos Reis Católicos, comam bem e assistam de lugar privilegiado à Cena tradicional de Fuegos, com a Catedral iluminada com um jogo de luzes e projecções em constante mudança, equilibristas a treparem e a dançarem na fachada da Catedral, um espectacular fogo de artifício e a Plaza del Obradoiro à cunha.
Catedral de Santiago de Compostela
E fazendo de Santiago de Compostela o vosso quartel-general, podem partir à descoberta de outros pontos da Galiza.
Sugiro que partam em direcção a Muros e que se deixem conquistar pela costa galega. As aldeias e vilas piscatórias são verdadeiros encantos e numa delas, enfiada numa enseada, até podem ter de parar para deixar passar um funeral que ocupa a estrada principal (e única).
Depois sigam sempre para norte e enfrentem rias e enseadas de grande beleza até chegarem ao Cabo Finisterra onde podem contemplar o Oceano ao estilo de voo de pássaro.
Continuem para norte pela Costa de la Muerte (que o digam os inúmeros náufragos) até chegarem à Coruña. Aí, se só puderem uma coisa, sugiro a Torre de Hércules, um antigo farol romano que fará lembrar uma das sete maravilhas do Mundo Antigo, o Farol de Alexandria.
No regresso a Portugal, sem pressas, podem sempre ficar na Pousada da Ria (Murtosa/Torreira) e aproveitar para dar um passeio de Moliceiro pela Ria.
UM MOIRO PELOS CAMINHOS DE SANTIAGO
Aventuras de um G Man:Nesta área, estamos mal. Fui acompanhado a Santiago e não pude sequer namoriscar com a recepcionista linda do Palacio del Carmen.
Não vou entrar aqui em generalizações e falar das espanholas ou das aventuras que já tive com umas quantas em terras de Sua Majestade El Rey Don Juan Carlos.
Sei que neste burgo há confrades muito mais experientes para falarem de "aventuras" na Galiza. Que se cheguem eles à frente e que enriqueçam este tópico também com as suas dicas de viagem…
BOA VIAGEM! SEJAM FELIZES!