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É engraçado que das coisas que gostei mais no Benfica neste jogo é também das coisas que gostei menos no Benfica neste jogo.
Estou-me a referir a tentar sair com a bola controlada quando recuperam a bola ainda perto da grande área do Benfica.
Desde o início do ano que se vê o Benfica a tentar fazer isto.
Contra equipas mais fracas já o fazem muito bem.
Contra equipas mais fortes é obviamente mais difícil. Onde se notou mais isso foi no jogo contra o Dortmund, em Lisboa. Os primeiros 15 ou 20 minutos tentaram sempre isso. Falharam quase todas as vezes. A partir daí, ao perceberem essa incapacidade e o perigo que daí advinha, foi sempre chutão para a frente, que acabou obviamente quase sempre nos pés do adversário.
Ora, o que gostei mais hoje é que me pareceu que já saiem melhor com a bola controlada assim que a recuperam, mesmo que ainda estejam em zonas arriscadas e mesmo que povoadas de adversários. Percebe-se perfeitamente que há ali trabalho realizado, ordens bem especificas para preferirem essa opção, e coragem por parte do treinador ao optar por essa forma de jogar, que apresenta maior risco, maior dificuldade, mas que é seguramente a forma mais indicada para as equipas grandes, e para as equipas que preferem optar por tentar o golo de formas que se baseiem mais no talento e no trabalho do que na sorte.
Mas, ao mesmo tempo, o que gostei menos foi da incapacidade em perceber quais são as alturas em que o risco é demasiado grande para optar por essa forma de jogar, que a equipa por vezes demonstrou. Às vezes tem mesmo de ser chutão para a frente e tirar dali a bola o mais rápido possível, porque a proximidade de demasiados adversários pode provocar roubos de bola e ressaltos que resultam em jogadas de muito perigo para a baliza do Benfica, muitas vezes com a equipa já meio desposicionada para responder adequadamente à situação.
Optar bem é algo bem dificil de fazer. As situações muitas vezes são muito parecidas, e o tempo para decidir é curto. Um metro a mais de distância por parte de somente um dos adversários pode ser suficiente para que já seja melhor opção sair com bola controlada em vez de mandar um chutão. E para isso é também preciso cada jogador saber claramente o que consegue fazer, e o que não consegue. E consoante cada adversário. Eu sei que não consigo fintar o Lindelof, mas sei que provavelmente consigo fintar o João Gobern. Mas há jogadores do Benfica que parece que ainda não sabem definir bem quem conseguem e quem não conseguem ultrapassar, quando conseguem segurar a bola ou não conseguem, quando existe falta de espaço.
O Jonas, por exemplo sabe bem quando fazer o quê, mesmo quando rodeado por diversos adversários. Mas o Pizzi, por exemplo, já não tanto.
O jogador que melhor decide quando se pode sair com bola e quando se deve dar chutão é mesmo o Fejsa, e ele hoje não estava lá.
E um jogador muito importante para se sair com qualidade é Grimaldo, e ele hoje também não estava lá.
Este é um problema meio bicudo de resolver, sobretudo para a próxima época. Como fazer isto contra equipas mais competentes, que conseguem pressionar com velocidade e qualidade no meio campo do Benfica, assim que o Benfica recupera a bola. Um problema que deverá bem presente quando se decidir entradas e saídas para a próxima época. É quase completamente impossível o Benfica passar a um patamar mais elevado de qualidade, enquanto não melhorar este aspecto. Sobretudo tendo em conta o perfil de jogadores pelos quais tem optado. Se andasse a contratar mais jogadores de grande poder físico, podia optar por outras formas de jogo, que envolvessem mais choque, mais luta pela 2ª bola, e mais bolas bombeadas para a frente. Com jogadores mais tecnicistas e levezinhos a opçâo tem de ser sair com a bola controlada.
Por isso é que optar por isso parece-me bem, apesar de achar que devem arranjar forma de o conseguirem fazer melhor.