A GRIPE DOS URSOS PARALISA O HOSPITAL

A GRIPE DOS URSOS

No tempo em que os animais falavam.


Era assim que começavam muitas das histórias no meu tempo de criança, há 50 anos atrás, e bastava esta frase para recuar milhares senão milhões de anos atrás. Porque não tínhamos dinossauros, a nossa referencia aos longínquos tempos dos primórdios anos eram de quando os animais falavam.


Durante bastante tempo, infância, adolescência e mais maduro porque a idade leva a isso, cresci com a ideia que os antibióticos e as vacinas tinham resolvido definitivamente esta questão de promiscuidade que era a de os animais se imiscuírem no nosso meio. Não falavam, não tinham direitos, não transmitiam doenças, resumidamente não tinham alma. Só existiam para nos servir.



Hoje paradoxalmente vamos dar conta de uma realidade em que os animais e outras figuras completamente aberrantes, figuras metade humanas metade animais, metade animal com partes de outros ou ainda figuras que só a imaginação fértil dos homens conseguiu conceber, assumem as virtudes e defeitos inerentes à nossa tão suprema raça.


Conseguimos ver deste modo na televisão e cinema um burro e um ogre, os animais da floresta tartarugas mutantes e ratos transgénicos que assumem os piores defeitos e as melhores virtudes da nossa humanidade que são êxitos de bilheteira e se tornaram os heróis das nossas crianças.


Não sei se será bom ou não para as nossas criancinhas que vão crescendo habituadas a ver nos animais poderes e qualidades que não têm, e que retiram aos humanos muitos pecadilhos imperdoáveis, tanto como atribuem aos animais virtudes que parece só estes poderem ter porque a nossa tão superior ordem dos primatas tem outros interesses, como os económicos, não se lhe pode já atribuir.


Mas, porque é que há sempre um mas? Com a cólera e a SIDA grassando em Africa e não só e mais recentemente a gripe das aves todas as convicções há cerca da separação dos animais e humanos se desmoronou, parecendo dar razão aos cartonistas.


Os vírus quais anjos, sem costas, invisíveis, sem sexo e tal como eles omnipresentes, têm um poder destrutivo imenso, maior que o de uma bomba atómica. De tal maneira poderoso é este pequeno ser, que se invadiu o Iraque com a desculpa que lá estaria um cuidadoso cultivo que poria toda a humanidade e aqueles maravilhosos, poderosos e os mais magníficos seres na superfície do planeta, falo claro nos americanos, em risco.


Não me espantou por isso que recentemente se tenha diagnosticado em Castelo Branco um novo surto epidémico causado por estes miseráveis animais? De começo insidioso, e embora infecte só os humanos com responsabilidades politicas, só se consegue diagnosticar depois de vermos os seus efeitos nas instituições que nos servem entrarem em agonia.


Só se consegue diagnosticar pelos sinais que provocam. Que são:

A paralisia quase total, o mais completo mutismo, a interferência generalizada e o conformismo absoluto e incompreensível que dá nos dos órgãos de poder local, as associações empresariais e profissionais, os órgãos de comunicação social e partidos políticos, enfim as forças vivas da região


Como é que querem que compreenda de outra forma? Depois de terem feito uma mini contestação pelo o mais que provável, inevitável e se calhar razoável encerramento da maternidade, deixam passar completamente desapercebido a mais que provável conversão do Hospital Amato Lusitano a Centro de saúde de que geração?


Ontem vários médicos do Hospital Amato Lusitano reuniram-se, preocupados com o futuro do hospital. Com eles estavam representantes dos médicos, que embora tentando acalmar as nossas apreensões, só me fizeram ficar ainda mais preocupado. As notícias que tivemos foram que o Centro Hospitalar da Beira Interior está definitivamente assente e acordado, que teoricamente não haverá serviços de referência, mas que os vários Serviços da mesma área concertarão entre si as complementaridades.


Esta é uma noticia a ser verdade deveras preocupante, porque com a conflituosidade que esta administração resolveu empreender contra todos e especialmente os médicos, com a falta de meios com que a administração nos vem confrontando para a nossa pratica clínica diária, quando formos discutir com os outros serviços as “complementaridades” , não temos nada para oferecer, esfregam as mãos de contentes os outros hospitais, vai acontecer como com a maternidade, ADEUS, com ela a neonatologia e por aí adiante.


De notar de apesar de todos os apelos para que nos desmintam, que respondam às nossas questões e angustias a administração têm-se remetido ao silencio, preferindo a ameaça, e destruição deliberada dos serviços, no meu entender, de modo a que o hospital penas fique com consulta externa e pouco mais.


Este é o começo de uma política bastante mais perigosa do que se possa pensar. A seguir irão (não o Irão) os politécnicos. Com eles muitos quadros, com eles empresas e investimento, como consequência os despedimentos, (veja-se Portalegre).


Transformar o Hospital num centro de saúde com internamento como parece ser o que vai acontecer, vai ter consequências a médio e longo prazo que penalizarão em muito o Distrito. Sendo que o Eng.ª. Sócrates o seu ministro Correia de Campos são os ideólogos desta transformação não podemos desculpabilizar NINGUÈM da região pelo o que está a acontecer, muito especialmente as forças vivas da região, os trabalhadores do hospital e utentes e muito especialmente a sua ADMINISTRAÇÃO ou COMO LOGO EM AGOSTO A APELIDEI A COMISSÃO DE LIQUIDAÇÃO DO HOSPITAL


Não nos esqueçamos como tantas vezes fazemos dos nomes desta obra de encerramento do hospital. ELES APANHARAM A GRIPE DOS URSOS, E NÓS?


Vasco Juzarte Rolo

Director do Serviço de Estomatologia demissionário

Do Hospital Amato Lusitano

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