Quando se falar em martelar, penso que se refere ao recurso a medidas extraordinárias, já que sendo sem elas, os números subiam para mais de 3%...

O problema desses martelanços é que só funcionam uma vez. No final de 2016 foi necessário fazer umas habilidades, naturalmente, tal como tinha acontecido em 2015 (e em 2014, 2013,,,,,, 2008, 2007, ,,,,,,, 2001, 2000, etc.

Os martelanços de 2016 não serviram para nada de especial; são é indispensáveis para compensar os do ano anterior. Eu sei isso bem, já que ando a fazê-los neste momento, tal como tive que os fazer no ano anterior - e terei que os fazer no próximo - e assim por diante. Deixarei de os fazer no momento em que me reformar; a partir daí espero dedicar-me a eles apenas com as meninas. (Neste momento é tanto o martelanço no trabalho que este ano só fiz um td).

Estas coisas são engraçadas, mas há uns tempos um amigo, que foi director numa multinacional das mesmo grandes dizia-me que era um maquilhagem permanente nas contas. Tem que ser, porque já vem de trás. É assim como a maquilhagem nas pequenas. Ontem cruzei-me com uma figura da televisão, daquelas boas, uma top. Sem produção e sem arranjo era absolutamente vulgar e com ar envelhecido (a iluminação do estúdio faz milagres); já quem a vê na televisão imagina-se logo a fazer coisas mirabolantes.

Tenho um amigo que passou por situação idêntica noutra "multinacional das mesmo grandes". Foi aguentando até ao dia em que se apercebeu que, mais tarde ou mais cedo, o céu poderia cair-lhe em cima da cabeça. Saíu honrosamente com uma indemnização valente e passou a viver muito mais feliz do que antes.

Lembrei-me agora da inteligência do cérebros da IBM, que faziam tão bem previsões como ninguém: não tenho os números, mas acho que desenharam um computador nos velhos tempos e acharam que havia mercado para 50 unidades; acabaram por vender uns 1.700. E o IBM PC, que eles estimavam que ia vender umas 25.000 máquinas acabou a vender milhões.

O que acaba por se passar é que, na governação de um país, há que pensar nos números das legislaturas, nos dados anuais, nos números mensais e nos números para o telejornal das 20 horas. No privado as pessoas trabalham o tempo todo para os resultados trimestrais: deles dependem os prémios (e no limite o emprego). Depois vale tudo: já lidei com uma situação em que o fornecedor, ao aproximar-se o fim do trimestre, faturava como um louco, para emitir notas de crédito na semana seguinte. No trimestre seguinte a brincadeira repetia-se, e toda a gente achava bem, desde os dirigentes, passando pela administração e pela casa mãe, do outro lado do oceano, incluindo auditores e a banca. Hoje em dia a empresa não existe mais: ficou só um buraco do tamanho de uma cratera no balanço dos bancos.

É como a história daquele programa de pagamento de dívidas do fim do anos passado, que gerou receitas apreciáveis: as receitas são de papel, mas tudo foi já contabilizado. O que não for pago, logo se verá; entretanto será martelado e martelado até aos limites do impossível. Até acho que o programa, pelo simples facto de ajudar umas quantas pessoas e empresas a endireitar a vida, tem mérito, mas, que diabo, os 500 milhões vamos vê-los no dia de São Nunca.

O défice é martelado com receitas extraordinárias (PERES, regime de reavaliação de activos e afins), cativações definitivas (aka cortes em despesas que estavam orçamentadas; o investimento feito pelo Estado em 2016 será o menor em %PIB pelo menos desde a entrada na CEE, ou seja, nem nos tempos da Troika foi tão baixo e é completamente insustentável, sob pena de colapso de alguns serviços/estruturas do Estado; caso para dizer que estão a ir para além da Troika).
O irónico, ou talvez não, é que a fúria reversora deste governo levará, muito provavelmente, à reversão da saída da Troika!

Se não houver variação de disponibilidades, o "não aumento de dívida" em percentagem do PIB só aconteceria se o crescimento fosse igual ou superior a 2.3%.
A valores nominais (e sempre na hipótese de não variação de disponibilidades de caixa face ao ano anterior) desde que haja déficit real, há aumento de dívida. Em percentagem do PIB, sempre que o valor do déficit (ex: 2.3%) é superior ao valor do crescimento do PIB (ex: 1.2%) temos crescimento da dívida em % do PIB.

Por isso disse que o crescimento da dívida é como o algodão. Não engana!
Claro que antigamente, havia muitas formas, ainda assim, de enganar (hoje há menos mas ainda há...), tais como passar a despesa pública para entidades que não eram consideradas públicas para efeitos de cálculo do déficit (Carris, TAP, Metro, "Parque Escolar" e outras coisas do género), ou fazer a despesa pública por via de PPP's (em vez de o Estado investir, endividando-se junto dos bancos, colocava os privados a fazer o investimento, ficando depois a pagar uma renda anual durante muitos anos), ou atrasar pagamentos até 2, 3 ou 4 anos (ex nas câmaras municipais ou na saúde).

Uma coisa que os nabos do governo do Passos Coelho nunca explicaram (e tinha TODA, mas mesmo TODA a vantagem e repetir até à exaustão) foi quanta dívida anterior ao governo deles foi integrada no perímetro de consolidação orçamental (pelos menos 40.000M€ somei eu a "olho") imposto (e bem, para acabar com desorçamentações, ou gastos escondidos da contabilidade pública) pela Troika.

Podiam ter a mesma retórica agora mas é igual. Por isso acho o Passos Coelho um péssimo comunicador ou então está mal aconselhado.

Se este governo (geringonça) atingiu alguns bons números, ele tinha de dizer que foi devido á herança que eles (PSD) deixaram, mas preferiram desvalorizar esse números.

Eu só oiço gente a elogiar o Costa pelo baixo deficit de 2016, mas ninguém diz que tem a ver com o deficit deixado no ano anterior, pois o ponto de partida ja estava abaixo dos 3%, o país estava a crescer e as condições muito favoráveis. Isto deveria ser repetido 1 milhão de vezes.

Eu fazia uma campanha a dizer: "Agora não estraguem outra vez"

nós estamos a precisar de um Trump, que mande construir um muro à volta de São Bento, e só deixe entrar a esquerda que nos interessa

já tenho saudades do Tó Zé, estava sempre tão bonito na oposição, até parecia uma rosa de plástico numa prateleira

Ora cá temos o BdP a confirmar que a dívida sobe muito mais que o défice

http://observador.pt/2017/02/01/divida- ... s-em-2016/

Para um PIB de 185kM€, temos um aumento da dívida de 5,1% (mais do dobro do défice apregoado pelo governo)

Mas para o Costa a dívida líquida está a baixar, por isso, não há problemas, está tudo sobre controle...

a diferença é de 4 mil milhões de euros, e o confrade não fique preocupado com o paradeiro do dinheiro, pois está na minha conta à ordem
agradecido por ter colaborado para a minha felicidade

O problema da dívida está no facto de continuarmos a gastar mais do que aquilo que produzimos... Não é preciso ser-se um PhD em Economia para perceber isto... Como o PIB não aumenta como deveria porque se continua a apostar no virtuoso modelo económico Chinês (mão-de-obra intensiva, baixos salários, baixas qualificações de patrões e empregados, aversão à inovação, gestão à pato-bravo, etc, etc) e o Estado continua a gastar o que não tem onde não deve, milagres não há porque "Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem", logo tem de aumentar a dívida...
O problema nem é uma questão de esquerda ou de direita... É mesmo uma questão de regime... Se não vejamos:

i) porque carga de água não há redução de pessoal nas autarquias? Há hospitais a rebentar pelas costuras com falta de pessoal e com pessoal a trabalhar horas-extra sem receber e não há dinheiro mas há autarquias que têm verdadeiros exércitos de funcionários a fazer sabe-se lá bem o quê (até já houve caciques que para conterem a fúria dos munícipes que se apercebem da marosca que isolam da vista de terceiros com biombos áreas onde "trabalham" exércitos de funcionários, enquanto por incrível que pareça, os serviços prestados pelas autarquias continuam a ser a bosta de sempre;

ii) Porque é que sendo o país um país reconhecidamente pobre há-de financiar tudo o que se arvora em defensor do interesse público (religiões, associações, fundações e por aí adiante)? O que é que essas entidades devolvem à sociedade? Será o custo-benefício justificável? Não deveriam ser auto-sustentáveis? Por esse prisma, uma empresa também deveria ser financiada porque também tem interesse público (manter postos de trabalho, por exemplo)...

iii) Porque é que não há um efectivo combate à corrupção de colarinho branco? O que sucedeu há dias a uma conhecida farmacêutica que até empregou um virtuoso ex-político cá do burgo é apenas e só um exemplo da corrupção que esbulha milhões aos contribuintes... Claro está que o combate a esta realidade não interessa a ninguém porque há muito quem coma da gamela...

iv) Porque é que a justiça é um cancro que permite que a corrupção e todo o género de patifarias saiam impunes sempre em prejuízo dos mesmos?

v) Porque é o Estado gastou acima das suas possibilidades? Quarenta e tal anos a viver em défice, mal o Euro entrou em circulação (fim da soberania em política monetária) e a dívida galopou por si só a par de decisões desastrosas e tornou-se perpétua e impagável (a ver vamos quando é que nos sucede o haircut que já sucedeu à Grécia... Vai ser uma questão de tempo!)... Há 15 anos atrás toda a direita e o PS tinham orgasmos quando se falava de PPPs para construir auto-estradas que continuam hoje às moscas... Mas que têm de ser pagas quer se queira, quer não... E os estádios de futebiol? Leiria (este já teve para vir abaixo), Aveiro (idem)... Algarve... Etc... Foi chão que deu uvas para as construtoras e findo o festival do futebiol, UEFA de papo-cheio rumo a Zurique e as dívidas, os tugas que as paguem...

vi) A Banca preferiu anos a fio meter-se em negociatas que lhes garantissem rendas (compras de monopólios naturais, concessões de auto-estradas e outras) e apostou igualmente no ladrilho... Crédito a empresas e a novos projectos foi algo que ficou esquecido numa qualquer gaveta, enquanto ao lado, em Espanha (apesar da muita trapalhada que por lá houve também) se apostou um nadinha mais nas empresas, tendo tornado a economia mais competitiva... que gera lucros que tributados lá vão alimentando a máquina do Estado...

vii) Porque é que a economia paralela não é efectivamente combatida?

Até é estranho os juros ainda não estarem em máximos de 2011 porque na verdade, os mesmos erros continuam a cometer-se (o famoso Guião da Reforma do Estado do Portas em que consistiu em termos práticos? A reversão das trinta e cinco horas foi mais um tiro no pé...) Quando batermos contra a parede, espero estar longe...

Ah... E mesmo que a geringonça vá ao ar com alguma rasteira do PSD a aproveitar-se das diferenças de posição dos partidos da geringonça, vamos continuar na mesma porque por cá, muito boa gente só vinga nos negócios à sombra do Estado protector e a máquina partidária precisa de jobs para os caciques manterem a sua base de apoio, seja na freguesia, seja no concelho ou mesmo nas empresas públicas que ainda subsistem...

Mas o importante é sabermos a variação das disponibilidade. E há a dívida total e a dívida líquida - e verdadeiramente a dívida líquida é aquela que mais nos interessa. Curiosamente é na dívida líquida que nunca se houve falar.

O Costa está sempre a falar dela.

Tanto fala, que já me convenci que se calhar nem há dúvida nenhuma!